quinta-feira, 2 de abril de 2009

Reação , cada um com a sua


É tão "engraçado" a reação das pessoas quando vc chega e fala: "É, tô com câncer sim". Acho que depois do susto que a gente leva começa uma outra fase que podemos pensar ser fácil por alguns momentos, mas é tão complexo quanto a nossa compreensão de estar doente. Contar para sua família e seus amigos que vc não tá bem, que a doença que te "pega" é o câncer, que vai passar por um tratamento penoso, que vc pode ficar careca, talvez tenha que operar e na pior das hipóteses vc pode morrer. Eu mesma não pensei que fosse tão ruim informar essas pessoas que me querem tão bem...

Lembro como se fosse ontem. Fui ao médico com um amigo e quando saí da consulta, me senti praticamente sem o chão. Eu sentia meu corpo todo anestesiado do nervosismo, do choque da notícia e a cabeça pesada com mil pensamentos. Não sabia o que falar, queria apenas me acalmar e acreditar que tudo ia dar certo sim. Afinal, câncer tem um nome pesado, mas pq tem muita crença nesse "mundo"...

Peguei meu celular pra ver a hora e já tinha dois ou três emails do Douglas. Ele estava trabalhando e estava tão nervoso qto eu pelo resultado dos exames. Na hora não quis escrever que estava doente e que a suspeita se confirmara. Mas não tive muita escolha e contei, ali mesmo, por email. Queria sentir um abraço bem forte dele e ouvir que tudo ia ficar bem, mas não deu. Mesmo apenas por palavras "Meu amor, tudo vai ficar bem", me senti protegida por ele. A gente não sabia o que o futuro nos guardava e senti uma apreensão por parte dele. Tantos planos foram adiados e a incerteza do amanhã. Nada conseguiu enfraquecer nosso amor, pelo contrário, apenas fortaleceu. Graças a Deus. E a cada dia esse homem que está ao meu lado se mostra mais presente na minha vida e na minha recuperação e sim, a cada dia, a cada momento ele tem sua reação. Diferente.

Depois avisei minha irmã, por email. Não sabia se minha mãe teria condições de saúde para "aguentar" a notícia. Minha irmã, assustada, parecia querer "tapar" o sol com peneira. Não quis acreditar que eu estava rumo à quimioterapia. E estava passando pelo mesmo caminho que meus dois falecidos avôs traçaram até a partida para um lugar melhor que aqui. Resolvemos que seria melhor contar pra ela, mas minha irmã iria falar primeiro, com calma e depois eu ligaria para conversar e tranquilizar, claro.

A reação da minha mãe foi a mais tranquila de todos, por incrível que pareça. Ela quis saber de todo o procedimento, quis saber como eu estava, me deu força. E o que eu devia fazer, ela fez por mim: me tranquilizou. Tudo bem, ela quis vir pra cá, cuidar de mim, mas por vários motivos isso não foi possível. Eu sei que ela tá com medo, ela tá preocupada, mas a primeira reação dela foi de se manter forte. E isso me transmitiu muita confiança.

E os amigos? Alguns não entendem logo de primeira "tacada". Depois que explico que tô fazendo quimioterapia que a ficha cai. Mas não que eles sejam menos amigos. Pelo contrário, apenas não acreditam que a doença pode pegar aquele teu amigo que esteve sempre ali. Ficam com medo por vc, querem saber de tudo também. E se dispõem a tudo que precisar.

Alguns não sabem o que falar. Se importam, claro, mas sempre deixam transparecer a preocupação e a tristeza de saber que sua amiga está doente. Talvez não entendam ainda que não é o fim de nada... mas isso eu vou mostrar pra eles. Afinal, amizade é pra isso também.

Tem aqueles que estão do lado sempre. A maioria desses meus amigos não estão do meu lado fisicamente. Estão lá, lá do outro lado do mundo, mas a comunicação é tão frenética que parece que moram aqui, cinco minutinhos de casa. Mandam emails, depoimentos, nos dão forças para criar o blog. E sim, me mantêm em pensamentos e energias positivas, sempre.

Enfim, cada um com sua reação, mas nenhum deixa de ser amigo e que eu amo tanto.


quarta-feira, 1 de abril de 2009

Dia 1º de Abril

Sim, 1º de Abril, dia da mentira! Pra mim não é só um dia de pregar peças nos amigos e sim aniversário de uma pessoa muito, muito especial pra mim!! Quem é essa pessoa? A minha mãe, a Dona Tereza... aquela que um dia eu briguei, por alguns momentos tive raiva (com todo perdão e arrependimento), mas que ensinou a ser essa mulher que me tornei hoje. Mãe que sinto tanta falta hoje, que me orienta, que me consola, me dá conselhos e me tranquiliza a alma quando me vejo em situaçoes como as de hoje.

Queria sim estar esses últimos aniversários contigo, Mãe. Não é possível, mas eu deixei meu coração aí quando eu parti pra este lado do mundo... sei que teremos mto o que viver, mto o que dar risada ainda... te amo muito e sempre te amarei, com todas as minhas forças até o resto dos meus dias.

E em meio às descobertas de câncer, tratamento, blogs, internet, me lembrei que hoje é aniversário da Ana Maria Braga. Além de colega de profissão, companhia nos meus dias intermináveis de tratamento e razão da minha evolução culinária, ela também é um exemplo. Em 2001, a apresentadora teve diagnóstico positivo para um tumor no reto e na virilha. Passou por quimio, radioterapia. Enfim, por todo o sofrimento que uma paciente de câncer é obrigada a passar. Assumiu a "careca", mas jamais perdeu a essência de mulher. Pôs catéter, fez inúmeros exames e o mais importante: fez com que milhares de telespectadoras pudessem se concientizar de que é importante fazer aqueles exames de toque, exames de rotina, SIM! Eles não custam caro, não doem e não demoram.

Hoje eu estou vivendo exatamente o que Ana Maria e muitas outras mulheres viveram ou vivem ainda. O medo não me atormenta mais porque sei que sou forte e que com fé tudo vai dar certo! E assim como ela e as muitas que passaram por isso quero mostrar que câncer tem cura, sim! E não, não é mentira!


domingo, 29 de março de 2009

"... É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo...
Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar.
Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim porque vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual porque sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre"

(Clarice Lispector)


Apenas para não ficar sem post por tanto tempo. Quando eu melhorar, eu volto.